segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Grafite


---- Da serie: CRONICAS DA METROPOLE

Uma manhã de sábado dessas, fui dar uma caminhada pela Vila, e me detive por alguns momentos no Beco do Batman (agora chamado de Beco do Grafite). A arte das ruas da cidade cresceu em prestigio, dentro e fora do país, e eu estava curioso para entender o motivo de toda essa atenção. Alem de mim, havia um grupo de estrangeiros tirando fotos das pinturas e fazendo comentários em inglês britânico. Não são poucos os visitantes que têm reparado na variedade de cores e formas que ocupou avenidas como Paulista e bairros como Vila Madalena. O grafite já se tornou um patrimônio cultural da cidade

Caminhei pelas pinturas tentando entender a mensagem, mas não é assim tão simples. A primeira coisa que me vem à cabeça são os quadrinhos dos anos 80, aquelas Graphic Novels super estilizadas, que misturavam elementos futuristas e retrôs ao mesmo tempo. Alem disso, também estão presentes alguns elementos do surrealismo “psicodélico” das capas dos velhos discos de vinil dos anos 70. Uma pintura em rosa e amarelo lembra Janis Joplin misturada com Sgt. Peppers. Dá pra notar também um intenso diálogo com imagens da mídia, que remetem aos desenhos animados dos anos 90. Em uma das figuras que me chamou a atenção, tartaruginhas nadam próximas a uma raiz subaquática, com muito azul e verde, cuja arvore real existe além do muro. O quadro ultrapassa o desenho e expande a mensagem do autor. A pop art e o surrealismo talvez sejam os mais freqüentes, mas esse caldo de influências chega até aqui depois de cozinhados na inquietação cultural das ultimas décadas.

Eu tinha alguns colegas do colégio que pintavam na calada da noite, não raro correndo o risco de repressão policial. Aliás, as primeiras intervenções urbanas começaram a aparecer naquela época, mas desde lá não se via tal efervescência na pintura. Diferente daquela geração, os artistas de hoje fazem uma arte com mais cor, mais gráfica, com traços bem característicos, mas quase sempre figurativa, onde tudo é aproveitado, desde lâmpadas na parede até tintas que escorrem. Em comum, além do fato de ser feita ao ar livre, com técnicas como o spray e o stencil, tem a urgência de produzir uma comunicação ágil, que capture a atenção do cidadão que passa. Daí a importância da dimensão e da estilização em sua linguagem. Um artigo do Estado comenta que, essa é a verdadeira expressão de uma geração que buscava meios alternativos numa época em que bienais e museus se dedicaram à arte conceitual.

Leio que a arte de rua de S. Paulo começa agora a ganhar a atenção das galerias de comerciais e dos museus internacionaionais. No ano passado, o Tate Modern, em Londres, teve sua fachada pintada por artistas de rua, entre eles os brasileiros Nunca e Os Gêmeos, como parte da exibição Street Art at Tate Modern. Segundo a Veja, o passo natural após o reconhecimento seria a arte urbana migrar para galerias de arte, onde chegam a alcançar valores de até R$ 100 mil. Até mesmo o prefeito Kassab decidiu incentivar o momento cultural das ruas da cidade, visitando obras famosas e reafirmando o bom relacionamento entre a prefeitura e os grafiteiros. No ano passado diversos trabalhos foram inadvertidamente apagados pelos fiscais da “Cidade Limpa”, mas já foram todos refeitos. (Veja o vídeo da reinauguração do mural na Radial Leste, no G1)

O grafite é o “novo” agora, e o Beco do Batman talvez seja a grande referência em termos de arte de rua de S. Paulo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Valter W -
Abordagem muito interessante.
Mas observe aquele monstrengo diferente das tartarugas... going against the flow... e olha só como o olhar dos demais o tentam aniquilar??!!
Abraço, raig74