sábado, 24 de maio de 2008

A volta do Vinil?


---- Da serie: CRONICAS DA METROPOLE

Ontem passei na Livraria Cultura do Maket Place, e descobri um coisa interessante: o disco de vinil está de volta!

Logo na entrada da seção de CDs me deparei com o bom e velho Machine Head, do Deep Purple. Era a edição comemorativa de 25 anos do disco, igualzinho ao original de 72... em vinil! A primeira vez que vi um exemplar foi no início do anos 80, importado da Alemanha, quadrafonico, uma raridade já naquela época. Quem tinha um, guardava no cofre.

Com o disco em mãos, fui falar com a gerente da loja. Queria saber o preço, mas também estava curioso para saber a razão de tanto destaque. Ela me disse que o Vinil está de volta! Me disse ainda que está mandando bem, e que o Vinil deve ultrapassar a vendagem de CDs em poucos anos. Um exagero, claro. O disco custava 74,90 reais, uma verdadeira fortuna na época do Itunes, em que uma faixa custa em torno de 2 dolares. Notei que alguns álbuns chegam a custar 150 pilas. Quase me arrependi de ter vendido minha coleção antiga de quase 400 peças a troco de banana... hoje estaria valendo uma boa grana!

Muito se falou sobre a redenção nostálgica do bom e velho Long Play de 180 gramas desde que a BPI - Indústria Fonográfica Britânica anunciou que a venda de vinil deu um salto no ano passado, atingindo o maior volume semanal em 20 anos. A HMV, maior loja de discos britânica, confirmou em um artigo do The Guardian que está expandindo o espaço na loja dedicado ao vinil para antender ao aumento da demanda, exatamente como está fazendo a Livraria Cultura. Até mesmo a Amazon inglesa já criou uma seção somente para o vinil.

As razões mais freqüentemente apontadas para esse retorno nostálgico, segundo a Wired, são 1) o som mais "quente e honesto" do Vinil, e 2) a "maior conexão", entre o artista e o consumidor, que somente os encartes dos álbuns de vinil proporcionam. Leio artigos apaixonados, escritos por nostálgicos de plantão como Ivan Lesa, torcendo por uma virada histórica, e descrições técnicas exacerbadas, criticando o excesso de compressão dos CDs - um artigo da Rolling Stones traz um comentário afirmando que 90% da música é jogada fora nesse processo. Claro, por trás desse ressurgimento também está a indústria fonográfica, ávida por uma mídia alternativa que faça frente aos Ipods, e que seja difícil de piratear.

Mas será que tudo isso é suficiente para um retorno sustentável?

A moça me diz que são vendidos hoje próximo de 200 discos de vinil por mês na rede da livraria, contra 3.000 CDs. Isso equivale a 6% da vendagem geral. Nada mal para uma mídia que até ha pouco tempo era considerada praticamente extinta. Some-se a isso a queda histórica na venda dos CDs, que já chegou a bater em históricos 10.000 por mês na rede, e dá para imaginar que talvez o vinil venha realmente a virar o jogo... mas só porque o CD está sendo sufocado pela media digital, pelos downloads, pela Internet e pelo celular.

Apesar dos entusiastas da tecnologia e dos nostálgicos de plantão, o mercado faz sua próprias escolhas. No início do ano, a Times, publicou um artigo bem interessante, comentando os dados da Nielsen SoundScan (pg 15). A vendagem do vinil chega a meros 0,2% da receita total, comparada com 89,7% da venda de CDs. Downloads representam 10% e crescendo - mas essa contagem desconsidera, por motivos óbvios, o mercado informal. Em números redondos, a venda do vinil chegou perto de 1 milhão de unidades no ano passado, e vem crescendo em torno de 15% ao ano. Nada mal, mas é sustentável esse crescimento? Difícil.

Claramente o Vinil está limitado ao um segmento de nicho, que logo vai atingir o seu teto, enquanto o mercado de massa está amplamente atendido por iPods carregados com 60 Giga de MP3. Perguntei qual o perfil dos clientes de hoje que compram discos de vinil na livraria, e ela me disse que a grande maioria são os nostálgicos, o tipo de caras como eu, que se impressionam ao ver o Machine Head reeditado, e os DJs, que utilizam esse formato nas suas pick-ups. Não me parecem segmentos que venham a sustentar uma virada a longo prazo. Seria o equivalente a dizer que os restaurantes gastronômicos vão superar o McDonalds.

Existem ainda os fâs de carterinha, que compram tudo que sai sobre o artista. Um artigo do Independent cita que o álbum em vinil mais vendido na Inglaterra é um compacto do White Stripes, cujos fãs são em grande parte adolescentes que nem sequer tem onde tocar esse formato. Eles consideram os encartes verdadeiras obras de arte e encaram as coisas assim: o MP3 são para ouvir, o vinil é pra guardar. De olho nesse mix, alguns artistas já distribuem os LPs com vouchers para downloads das musicas do álbum, como por exemplo o último do Elvis Costello, atendendo assim os que gostam dos encartes mas não abrem mão da praticidade de ter as suas canções preferidas em mídia digital.

Ela perguntou se eu queria ouvir, e falei que não. Se ouvisse, eu ia acabar comprando, e tambem não tenho mais onde tocar esses discos. Ela insistiu, argumentando superioridade técnica e tal, mas rebati dizendo que toda essa qualidade só é possível na primeira execução. O contato mecânico com a agulha causa o inevitável desgaste das peças. Mais tarde, lendo a resenha dos usuários da Amazon sobre o Machine Head em vinil, percebo que o principal motivo para a compra do novo disco é que o antigo já se desmanchou de tanto ouvir.